Por Reginete Bispo, vereadora de Porto Alegre, e Jeferson Miola, analista político
“Dê a sua contribuição […] com a sua vida pra que a gente salve a economia do município de Porto Alegre”.
Prefeito de Porto Alegre Sebastião Melo/MDB, em 25/2/2021.
Porto Alegre, com as políticas de inclusão social, inversão de prioridades orçamentárias e de orçamento participativo dos governos da Frente Popular – iniciados com Olívio Dutra em 1988 e continuados por Tarso Genro, Raul Pont e João Verle até 2004 – já foi a capital mundial da esperança.
O início do século 21 foi marcado pelo 1º Fórum Social Mundial, realizado na semana de 25 a 31 de janeiro de 2001 na capital gaúcha com a presença de mais de 25 mil cidadãos e cidadãs de 117 países de todos os continentes que, ante o totalitarismo do pensamento único e da ideia autoritária de que não havia alternativas e de que a humanidade estava condenada à fatalidade neoliberal, proclamaram que um outro mundo é possível!
Setores ideológicos não-partidários do PT, assim como governos estrangeiros e instituições multilaterais – como foi o caso, por exemplo, de vários organismos da ONU – reconheciam e premiavam os governos da Frente Popular liderados pelo PT por suas políticas anti-neoliberais de fortalecimento do Estado, distribuição de renda, promoção da igualdade racial e de gênero e de justiça social com democracia participativa.
A partir de 2004 a espiral de ódio ao PT que passou a dominar a política brasileira também alcançou Porto Alegre, e então a oligarquia local e o monopólio midiático da RBS/Globo desencadearam uma guerra feroz para “tirar o PT” do governo.
Desde então, a cada eleição o mesmo condomínio conservador, unido no objetivo de repartir o butim do orçamento e da renda municipal, se reveza na gestão da Prefeitura. Mudam apenas os nomes, mas a essência do projeto oligárquico permanece intocável.
A decadência da Administração Municipal, sucessiva e permanente ano após ano, é notória. Esta cidade que já foi motivo de inspiração mundial, hoje é símbolo de profunda vergonha mundial.
O The New York Times deste sábado diz que Porto Alegre é o “coração de um colapso monumental no sistema de saúde do Brasil”. O jornal afirma que a cidade convivia com a ameaça de colapso funerário e profissionais de saúde da linha de frente “exaustos imploravam em fevereiro por um bloqueio para salvar vidas”.
Enquanto isso, segundo a matéria, “Sebastião Melo, prefeito de Porto Alegre, argumentou que havia um imperativo maior: ‘coloque sua vida em risco para que possamos salvar a economia’”.
“Agora, Porto Alegre, uma cidade próspera no sul do Brasil, está no centro de um colapso impressionante do sistema de saúde do país – uma crise prevista”, descreve a reportagem.
Pacientes estão morrendo asfixiados nas filas de espera de UTI’s ou vão a óbito nos próprios domicílios, porque não existem vagas hospitalares para serem transferidos. Nas últimas semanas, observam-se filas nos cartórios para registro de óbitos, e a cidade está à beira de um colapso funerário.
Nada disso, porém, comove o prefeito Sebastião Melo/MDB e sua base de sustentação na Câmara de Vereadores. Apesar desta realidade tétrica, Melo recorre ao judiciário para manter o comércio e os serviços da cidade funcionando normalmente.
Ao mesmo tempo, em meio a este “colapso monumental”, Melo irresponsavelmente prioriza com sua base na Câmara de Vereadores a votação de projetos de privatização da empresa de ônibus [CARRIS], da companhia de processamento de dados [PROCEMPA] e da empresa de abastecimento d’água [DMAE]. E, além disso, tenta aprovar com urgência projeto para destruir o sistema previdenciário municipal, que é sabidamente saudável e equilibrado.
A escolha do prefeito de Porto Alegre é vergonhosa e repugnante. Porto Alegre, que já foi a sede do Fórum Social Mundial e fonte irradiadora da esperança de um outro mundo possível, hoje é mundialmente apontada como o “coração de um colapso monumental” da saúde.
Nós sabemos que todo este sofrimento, dor e luto poderia ter sido evitado.
Confiamos que com nossa experiência acumulada, com a solidariedade e capacidade de resistência da população, seremos capazes de deter esta onda de devastação para colocar a vida como valor maior a ser preservado.