O tiro e o vírus

O tiro e o vírus

Na época da ditadura era tiro. Hoje, na pandemia é o vírus.
A ditadura civil militar de 64 até os anos de 1980 contava com o medo que a população brasileira tinha de ir às ruas e levar tiros e violência de toda ordem ao se manifestar contra o regime.

Hoje o governo genocida de Bolsonaro conta com o medo que as forças de oposição têm do vírus da covid-19, em se manifestar contra toda a avalanche de absurdos e desmandos cometidos pelo presidente e sua gang.
Mas, no entanto, em 2020 o povo (principalmente os estudantes) foi às ruas, em 15 , 30 de maio e 7 de junho, em grandes manifestações de protesto contra o governo. E agora, neste ano de 2021, dia29 de maio.
A situação, no entanto, só tem piorado e o governo genocida ignora tudo e a todos. Faz chacota, ironiza. Continua agindo criminosamente.

Outra manifestação está sendo programada pelas forças progressistas para o próximo dia 19 de junho.
Temos que fazer uma manifestação de enormes proporções contra este governo que já pode ser responsabilizado por mais de 400 mil mortes. Temos que ir às ruas respeitando os protocolos, ou seja, usando máscara, mantendo o distanciamento recomendado, etc.

NÃO PODEMOS TER MEDO!

Aproveito para citar dois momentos em, que o movimento estudantil, junto com as organizações populares, apesar do medo, travou grandes lutas protestando contra a ditadura naqueles anos de repressão intensa.
Primeiro- A missa de sétimo dia por Alexandre Vanucchi Leme.

Em meados de março de 1973 os jornais publicaram a notícia da morte de Alexandre Vannuchi Leme. (estudante de geologia da USP)
..
Fomos todos para a assembleia à noite para discutir o assassinato do Alexandre. Foi um assassinato. Não tínhamos dúvida. Os órgãos da repressão divulgaram, num primeiro momento, que Alexandre havia se suicidado com lâminas de barbear, mas isto foi desmentido em seguida.
Criaram então uma outra versão, que ele tentou fugir e um caminhão o atropelou.
Mas Adriano Diogo, amigo e colega de classe de Alexandre, foi preso juntamente com sua companheira, Arlete Diogo, ao saírem de casa, no sábado de manhã, dois dias após a prisão de Alexandre. Foram levados ao Doi – Codi (Operação Bandeirante), onde estava Alexandre Vannucchi, preso desde a quinta-feira e submetido a inúmeras sessões de torturas, comandadas pelo coronel – torturador Carlos Brilhante Ustra. Adriano e sua companheira foram levados até o coronel torturador, que com um revólver em punho apontou para a cabeça de Adriano e disse: – Acabei de matar o teu amigo, aquele filho da puta da “minhoca”. Mandei ele pra “Vanguarda Popular Celestial”. “Minhoca” era o apelido do Alexandre Vannucchi. E, “vanguarda popular celestial”, provavelmente era uma alusão jocosa à VPR – Vanguarda Popular Revolucionária.

Adriano e sua companheira também foram submetidos a torturas e permaneceram encarcerados em solitárias, por noventa dias aproximadamente.

Na manhã de um desses dias, Adriano foi retirado da solitária e não lhe serviram o café da manhã (procedimento rotineiro quando o preso ia passar por um interrogatório e ser torturado; alimentado, o preso poderia ter problemas como vômitos etc.) Foi levado até a sala do torturador Carlos Brilhante Ustra.
Ustra então lhe perguntou se estava tudo bem com ele, se havia dormido bem. Se estava tudo certo. Adriano, sem entender direito aquele tipo de abordagem, respondeu que sim, sem entusiasmo e surpreso.
Em seguida, o torturador mostrou uma foto de uma mulher decapitada e toda costurada na parte do tórax e abdômen, reconstituindo o seu corpo.

Disse para Adriano: – Olha aí, mais uma que mandamos pra “Vanguarda Popular celestial”.
Era a foto da ex-guerrilheira Sueli Kanayama, morta e decapitada na guerrilha do Araguaia.
Passamos uma semana de luta e luto na USP, preparando o ato de protesto, a missa de sétimo dia, que seria realizada na Sé e celebrada pelo Arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns. A catedral da Sé estava lotada! Ao todo, participaram em torno de 5 mil pessoas. Ao final da cerimônia religiosa, o músico Sérgio Ricardo cantou a sua música “Calabouço” e todos acompanharam. Aos poucos saindo em direção à porta principal da igreja, começou-se cantar a música “Caminhando” de Geraldo Vandré, – “Vem! Vamos embora, que esperar não é saber”. Descemos as escadas cantando. Dos degraus se pode ver a Praça da Sé. Era inacreditável: uma vastidão de capacetes reluzentes sob o chuvisqueiro que caía! A polícia militar fechava a saída. Quando se descia as escadas, no final, todos nós éramos dispersados pelos policiais nos ameaçando com seus cassetetes. Éramos dispersados para esquerda ou para direita, porque eles estavam ali pra dar porrada. Muita tensão! Se alguém tentasse ir pra praça não iria conseguir. Eles tomaram a praça. Todo o espaço tomado por policiais.

No Campus da USP o clima de tensão e preocupação entre os estudantes era grande e constante.
Segundo- 1975- Outro ato de resistência e protesto ocorreu em resposta ao assassinato do jornalista e professor da ECA Wladimir Herzog. Ele foi torturado e morto nas dependências do Doi-Codi -Operação Bandeirante em São Paulo.
As forças de oposição ao regime ditatorial, Movimentos populares, bem como movimento estudantil, organizaram uma Missa de Sétimo dia (num ato ecumênico) em homenagem a Wladimir Herzog, na catedral da Sé.
No dia da missa, dia útil, a ditadura através das forças repressivas tratou de tentar impedir a realização do ato. Usou toda forma de intimidação. A mais espetacular foi a armação de inúmeros bloqueios de trânsito nas principais avenidas que dão acesso ao centro da cidade onde se localiza a catedral da Sé. O Maior congestionamento jamais visto na cidade. Tudo foi planejado, e orquestrado para tentar impedir a chegada das pessoas ao ato ecumênico. O ato também era um enorme protesto contra a ditadura civil militar. Os participantes, no entanto, não desistiram, muitos deixaram seus carros, ônibus, trem e caminhando chegaram até a catedral onde finalmente ocorreu o ato ecumênico, com a presença de mais de 5 mil pessoas, que tanto repercutiu dentro e fora do Brasil.

Vamos AO ATO CONTRA O GENOCIDA.! DIA 19 DE JUNHO.
Temos que agir. A hora é agora. Não podemos esperar mais.
Vamos à luta companheirada!!!

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Uma resposta

  1. É sempre bom ler os artigos sobre o passado sombrio pelo qual passou o Brasil na época da ditadura.

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