800.000 médicos a Trump: preste atenção aos alertas de especialistas e pare com a perigosa campanha contra o distanciamento social

800.000 médicos a Trump: preste atenção aos alertas de especialistas e pare com a perigosa campanha contra o distanciamento social

”Precisamos de sua liderança no apoio a recomendações científicas sobre distanciamento social que possam retardar o vírus”

Por Julia Conley

Um conselho, que representa mais de 800.000 médicos em todo os EUA, assinou uma carta na sexta-feira implorando ao presidente Donald Trump para reverter seu pedido de reabertura de empresas até 12 de abril, alertando que o desrespeito do presidente à orientação de especialistas em saúde pública poderá prejudicar a saúde de milhões de americanos e jogar hospitais em um caos ainda maior, enquanto combatem a pandemia de coronavírus.

O Conselho de Sociedades de Especialidades Médicas (Council of Medical Specialty Societies) – uma coalizão composta por grupos de médicos como o American College of Emergency Physicians,

Society of Critical Care Medicine, and o American College of Preventive Medicine – apelou à liderança do presidente para incentivar os americanos a continuarem praticando o distanciamento social para retardar a propagação do coronavírus, oficialmente conhecido como COVID-19.

“A contaminação significativa da COVID-19 continua nos Estados Unidos e precisamos da sua liderança no apoio a recomendações científicas sobre distanciamento social que possam retardar o vírus”, escreveu o conselho. “Os esforços estaduais por si só não controlarão suficientemente essa crise de saúde pública”.

Enquanto os governadores e prefeitos de todo o país emitiram ordens para as pessoas ficarem em suas casas e alertaram suas comunidades de que a vigilância poderia levar várias semanas – com restaurantes e escolas fechadas e muitas pessoas saindo de casa apenas para itens essenciais – para “achatar” a curva” e retardar a propagação do vírus, Trump disse na segunda-feira que quer que empresas em todo o país reabram até a Páscoa.

“Você terá igrejas cheias por todo o país. Acho que seria um momento bonito”, disse Trump nesta semana sobre sua data alvo da Páscoa, interpretado por alguns como um aceno para os eleitores cristãos evangélicos. No fim de semana passado, o presidente também sugeriu que a “cura” de fechar negócios temporariamente seria “pior que a doença”, que matou mais de 1.500 americanos até agora e adoeceu quase 100.000.

Após as declarações do presidente, a governadora do Alabama, Kay Ivey, republicana de direita, sugeriu que as medidas de distanciamento social são uma questão partidária e representam uma divisão cultural entre conservadores e liberais.

“Ei, vocês todos, não somos a Califórnia, não somos Nova York”, disse Ivey a repórteres sobre sua decisão de manter a economia do Alabama funcionando.

Nesta terça-feira, Trump deverá dar mais detalhes sobre seus planos de reabrir a economia após apenas 15 dias de distanciamento social implementado pela Casa Branca.

Em sua carta, o conselho escreveu que, em vez de tratar a pandemia como uma questão partidária, Trump deve seguir a orientação de especialistas em saúde pública e incentivar todos os americanos a fazer o mesmo.

“Um plano nacional robusto que apoie e reforce o distanciamento social – e reconheça que nossa saúde e nossa economia estão indissociavelmente ligadas – deve permanecer em vigor até que especialistas em saúde pública e médicos indiquem que pode ser suspenso”, diz a carta.

“Os governos federal, estaduais e locais devem definir uma data para suspender as restrições nacionais de distanciamento social, somente com avaliações consistentes de especialistas em saúde pública e médicos”, continuou. “A suspensão das restrições antes da hora comprometerá gravemente a saúde de todos os americanos e prolongará a devastação da pandemia de COVID-19”.

Segue a íntegra da carta:

27 de março de 2020

Prezado Presidente Trump, Vice-Presidente Pence e Embaixadora Birx:

Obrigado por envolverem ativamente a comunidade de serviços de saúde, especialmente os médicos do país e as organizações que os representam, no tratamento da pandemia de COVID-19 nos Estados Unidos.

Nós, na qualidade de mais de 800.000 médicos em mais de 40 especialidades em medicina, continuamos a apoiar a restrições a viagens e a agrupamentos de pessoas para retardar a transmissão da doença por coronavírus 2019 (COVID-19). Médicos, outros profissionais de saúde e funcionários estão se colocando em risco sem equipamento de proteção individual adequado ou ferramentas necessárias (como respiradores), bem como sem tratamento comprovado ou vacina para o vírus.

A contaminação significativa do COVID-19 continua nos Estados Unidos e precisamos da sua liderança no apoio a recomendações científicas sobre distanciamento social que possam retardar o vírus. Nossas sociedades aderiram estritamente a essas medidas, transferindo nossa equipe para trabalho à distância em tempo integral e cancelando as reuniões pessoais (incluindo as reuniões anuais). Essas ações ajudaram a manter médicos e outros profissionais de saúde em unidades de atendimento, incluindo hospitais, e a reduzir o risco de disseminação da COVID-19.

Os esforços estaduais por si só não controlarão suficientemente essa crise de saúde pública. Um plano nacional robusto que apoie e reforce o distanciamento social – e reconheça que nossa saúde e nossa economia estão indissociavelmente ligadas – deve permanecer em vigor até que especialistas em saúde pública e médicos indiquem que pode ser suspenso.

Os governos federal, estaduais e locais devem definir uma data para suspender as restrições nacionais de distanciamento social, somente com avaliações consistentes de especialistas em saúde pública e médicos. A suspensão das restrições antes da hora comprometerá gravemente a saúde de todos os americanos e prolongará a devastação da pandemia da COVID-19.

Mais uma vez, obrigado por envolver ativamente os médicos da nação e as organizações que os representam. Agradecemos sua consideração por esses comentários e receberemos de bom grado a oportunidade de mais diálogo.

Atenciosamente,

Conselho de Sociedades de Especialidades Médicas

*Publicado originalmente emCommon Dreams‘ | Tradução de César Locatelli 

** Créditos da foto: Enfermeiras certificadas Kimberly Scheider, à esquerda, e Debbie Jessell, à direita, andam até o carro de um paciente antes de iniciar o teste na Penn State Health St. Joseph, onde estão conduzindo testes de coronavírus / COVID-19 sem que as pessoas saiam do carro e tomaram cuidados extras em relação à entrada no hospital, em Bern Township, Pensilvânia, na sexta-feira à tarde, 27 de março de 2020. (Ben Hasty/MediaNews Group/Reading Eagle via Getty Images)

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