É parte de etiqueta do poder, entregar o cargo, a pedido ou não, com discrição “a bem do serviço público”. É normal a mudança de comandos, chefias e gabinetes em governos civis eleitos para produzir ou sustentar arranjos de governabilidade conforme as contabilidades políticas da ocasião.
Quando três comandantes gerais da FFAA entregam seus cargos publicamente, eles esperam criar um fato político de alta visibilidade que manda o recado, para cima e ao redor, de que a coisa não estava indo bem. A troca na pasta da Defesa, de um militar por outro, mas que deveria idealmente ser comandada por um civil, foi um bom pretexto para o desembarque do alto comando, ensaiado faz algum tempo, ao que parece.
Foi uma ótima oportunidade para que as FFAA, lembrassem a si mesmas, ao governo, aos poderes e à sociedade que elas são instituições estatais e públicas sob a tutela da Constituição que circunscreve, garante e blinda o seu poder e legitima sua existência. As FFAA Rememoraram a todos que a pena do Estado de direito é quem comanda as espadas se estas justificam sua existência e querem ser afiadas em seus cortes.
Foi o momento escolhido a dedos para dar um pito público no insubordinado ventríloquo (des)governante. Foi uma advertência clara para o pessoal de dentro, os políticos oportunistas de farda, que a brincadeira com a reputação e a máquina militar, voltada para projetos pessoais de poder, “já deu”.
Foi um informe – curto e grosso, mas combinado antes – encaminhado para as turmas dos outros poderes de que o cabo e o soldado sempre deram “meia-volta volver” porque tinham mais o que fazer: responderem somente a cadeia de comando e controle das forças, em obediência estrita à hierarquia e disciplina indispensáveis a existência das Forças Combatentes.
Foi uma satisfação dada à nação, verdadeira mandatária das espadas: “não vai ter golpe”! Ninguém aqui é bobo de viajar na maionese aventureira de quem tem por missão desonrar o juramento feito como cadete e se fazer mais importante do que a uniformidade e unidade das fardas.
O ineditismo deste ato público de três comandantes-soldados que representam milhares de outros soldados, serviu para explicitar que se tem um governo COM (12 mil) militares, mas não um Governo Militar, estrito senso, com 335 mil combatentes a seu serviço.
Falando em português papo-reto, tem-se a impressão de que as FFAA não querem mais cercar as terras arrasadas e limpar os meios fios dos descaminhos produzidos por bando de incompetentes, sanguessugas e fominhas sem qualquer plano para o Brasil, seja este conservador, liberal, etc. As FFAA são formas de espera engajada para o agir tempestivo. Gostam de planejamento do hoje para o amanhã e o depois, bem além do horizonte comezinho dos vampiros de DAS.
Desde que o pandemônio governamental começou, com sua bateção de cabeças em alas pseudo “técnica”, “ideológica” e “militar”, as FFAA tem sido entubadas com os (des)feitos e extubadas com as falsas promessas governamentais de que “agora vai” engrenar. A queimação de filme não tem sido pouca. São muitas as notas promissórias salgadas assinadas pelas FFAA até o momento. Um cenário com 314 mil mortos na pandemia. Vejamos.
Militares da ativa atuando como gestores governamentais em flagrante conflito de interesse republicano, militar e pessoal.
Parentes, correligionários, servidores e afins ao (des)governado usando o nome das FFAA em vão para ameaçar cidadãos, do playground ao supermercado, e intimidarem supostos divergentes, das ruas as praças. Tem-se grupelhos raivosos, do tipo “play mobil comando e ação”, com fantasias militares e coreografias marciais, comprando briguinhas viris de esquina e tretas moralistas. E como todo garnisé que acredita ter como primo uma unidade combatente de galos de briga, colocam a fatura na conta das FFAA para a sua reputação pagar.
Custeio, produção e encalhe de cloroquina a céu aberto. Canhões de luzes sobre as compras transformando em vedetes de ocasião os jogos de guerra, leite condensado, o chiclete, a picanha, a cerveja, e tudo mais que se decidir adquirir, comer, manter, reformar, enfim, fazer funcionar dentro dos quartéis.
Questionamentos sobre a pertinência de se manter o atual efetivo das forças diante da sua fuga da reforma da previdência. Afinal, tanto militar fazendo uma boquinha no executivo federal seria por falta do que fazer dentro das forças?
Tem-se, ainda, o desconforto com a sabotagem persistente de um recruta (político abaixo de) zero das medidas preventivas de fechamento, isolamento e distanciamentos sociais diante das 2ª e 3ª ondas de COVID. O Exército Brasileiro é uma força terrestre de larga escala, cujo contingente é maior que 5.453 municípios brasileiros.
As FFAA precisam respirar em paz. E não vai ser pagando o mico de teatralizar, a seu contra gosto, um golpe eternamente latente, pronto para não acontecer, e que seria derrotado nos primeiros minutos pela guerrilha de memes desqualificadores nas redes sociais. Quando não se pode fazer uma guerra de informações a seu favor para fortalecer as forças morais e buscar base social de sustentação, é melhor manter o tanque no quintal. Os militares profissionais e sérios sabem disso. Parece que as FFAA foram vistas no TINDER procurando seu antigo affair republicano: o Estado Democrático de Direito.
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Excelente artigo!