A esquerda brasileira ainda não entendeu que o Brasil de 1988 não existe mais. Ela perde-se em cálculos eleitorais de médio prazo, em vez de pensar maior e encarar a realidade: Uma esquerda do tipo ‘Constituição de 1988’ não é mais possível. Ela precisa ser uma esquerda ‘pré-golpe de 1964’, mais radical.
Nas últimas três décadas temos observado a esquerda inclinada a jogar o jogo da “normalidade”, da institucionalidade e da via parlamentar, como se ainda houvesse certa democracia. A partir de 1988, a esquerda brasileira concentrou seus esforços de luta em defesa dos direitos sociais previstos na Constituição e a representação perfeita disso era o petismo. No entanto, essa normalidade não existe mais.
Com o golpe de 2016 e a vitória de Jair Bolsonaro em 2018 houve uma reconfiguração do sistema político baseada numa república rentista, com um aumento significativo das desigualdades sociais e retirada de direitos dos mais pobres. Tal reconfiguração, aprofundada por Michel Temer, a Reforma da Previdência, o congelamento de gastos públicos por 20 anos e a Reforma Trabalhista, rompeu com o pacto social da Constituição.
Vivemos um momento em que toda a burguesia brasileira está unida em torno de um “pacto pelo alto”, como diria Florestan Fernandes e Bolsonaro é a expressão máxima disso. O grau de destruição proposto pelo seu governo é enorme.
Jair Bolsonaro foi bem sucedido na eleição de 2018 e tem conseguido manter certo apoio popular até aqui, por ter incorporado o cansaço popular com os governantes, parlamentares e os poderes em geral. Dessa forma, ele radicalizou e foi o único candidato antissistêmico.
Mas claro que era tudo apenas marketing político, hoje podemos comprovar que o presidente governa para ruralistas, banqueiros, estimula o emprego precário, a concentração de terras, rendas, é responsável por milhares de mortes devido ao seu negacionismo e anti-cientificismo no combate à Covid-19 e pela fome que volta a assombrar o nosso povo.
Após ter deixado o país nesta situação de miséria e sem qualquer expectativa de melhoria, Bolsonaro, tem feito declarações que nos fazem ficar com a pulga atrás da orelha sobre os seus planos para enfrentar a crise e evidenciam a urgência de organizar uma esquerda revolucionária para lutar contra o bolsonarismo e impedir a imposição de uma ditadura no nosso país, o que parece ser a vontade do nosso presidente genocida, já declarada por várias vezes nos meios de comunicação.
Por exemplo, vale lembrar que no passado dia 19 de maio, Bolsonaro já deu o recado para os seus seguidores:
“O povo não tem nem pé de galinha para comer mais. Agora, o que eu tenho falado, o caos vem aí. A fome vai tirar o pessoal de casa. Vamos ter problemas que nunca esperávamos ter problemas sociais gravíssimos.”
Ainda, em tom de ameaça, o presidente explicou que a consequência de toda essa situação caótica pode ser um momento ainda pior e continuou o recado:
“O terreno fértil para a ditadura é a miséria, a fome, a pobreza, onde o homem com necessidade perde a razão. Estão esperando o que? Vai chegar o momento? Gostaria que não chegasse, mas vai acabar chegando esse momento.”
Assista aqui a declaração do presidente:
COMO ENFRENTAR O BOLSONARISMO?
Para responder a essa pergunta tenho insistido que é importante reforçar que quem nasceu para ser antisistêmica, antiregime burguês foi a esquerda.
A esquerda nasceu para ser radical.
Sempre foi tradição dos intelectuais de esquerda se colocarem como revolucionários, anti-ordem e anticapitalistas. No Brasil, a esquerda foi radical até 1964, agora é liberal, mansa e sem dentes para morder.
Para recuperar essa radicalidade pré-golpe de 1964 é necessário martelar diariamente a concentração de terras e a captura do Estado pelos banqueiros, propor a nacionalização do pré-sal, a volta da valorização do salário mínimo, maior tributação dos mais ricos, vacinação para todos, auxílio emergencial digno e, principalmente, exigir a retirada desse governo genocida e a realização de novas eleições livres. É necessário criar um movimento de massas contra um parlamento corrupto e patronal.
As conquistas dos trabalhadores não serão possíveis com este Estado neoliberal, a radicalidade é o caminho mais seguro para a esquerda, afinal, não podemos esquecer de uma das frases mais conhecidas do Manifesto do Partido Comunista, escrito por Friedrich Engels e Karl Marx:
“A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores.” (Karl Marx)