Por Jeferson Miola
O julgamento da suspeição de Sérgio Moro e a reabilitação dos direitos políticos do Lula são as duas faces de uma única moeda. Se o STF julgar como suspeita a conduta do Moro na farsa da Lava Jato para condenar Lula, a consequência lógica será a anulação das sentenças condenatórias do ex-presidente.
Se isso acontecesse, Lula se livraria das condenações ilegais e seus processos retornariam à fase de instrução na 1ª instância judicial. Ele então recuperaria os direitos políticos cassados pela justiça que foi corrompida pela Lava Jato e tutelada pelo general Villas Bôas para viabilizar a eleição do Bolsonaro em 2018.
Esta eventual decisão, entretanto, produziria efeitos de enorme impacto para o regime e, por isso, é difícil crer que o STF venha a proferi-la, ainda que a parcialidade e as ilicitudes do ex-juiz Sérgio Moro, assim como a corrupção do sistema de justiça pela Lava Jato estejam fartamente documentadas.
A decisão do ministro do STF Gilmar Mendes de transferir o julgamento deste caso para uma sessão presencial da 2ª turma do STF – ou seja, para após a pandemia –, pode ser um arranjo que harmoniza os interesses do regime e do bloco dominante em torno de uma solução por cima, suave e discreta.
Devido à trajetória da pandemia, o judiciário não deverá realizar sessões presenciais antes da aposentadoria do ministro Celso de Mello – cujo voto, pela tradição garantista de suas posições, tenderia a ser pelo reconhecimento da suspeição do Moro, assegurando um placar favorável a Lula.
Quando o STF retomar a votação presencial deste processo, como propõe Gilmar Mendes, o substituto do Celso de Mello já estará indicado por Bolsonaro para integrar o colegiado e, também, a 2ª turma do Supremo.
Como o próprio Bolsonaro afirmou inúmeras vezes, o ministro indicado deverá ser alguém “terrivelmente evangélico”; ou, no mínimo, um bolsonarista de raiz. Com certeza será alguém totalmente alinhado com as conveniências do bolsonarismo, do governo militar e do bloco dominante. Neste caso, a continuidade do arbítrio para manter Lula inelegível em 2022 é a hipótese mais provável de acontecer.
Lula ficou ilegalmente encarcerado por 1 ano e 7 meses para não atrapalhar a consecução, pela oligarquia golpista, do mais devastador processo de saqueio e pilhagem do país. Ele só foi libertado do cárcere político em 8 de novembro de 2019 devido à forte pressão do mundo inteiro, que reclamava sua libertação e denunciava o medievalismo da sua prisão.
Apesar de liberto da masmorra de Curitiba, hoje Lula não goza dos seus plenos direitos civis e políticos, como corresponderia a qualquer cidadão inocente e verdadeiramente livre.
Lula vive uma falsa liberdade. Lula não está livre, porque continua sendo prisioneiro político do exército estrangeiro de ocupação do Brasil, os EUA, e é um refém nas mãos da oligarquia entreguista.
Enquanto não for devolvido a Lula o direito genuinamente cidadão de votar e de ser votado, ele continuará sendo um preso político, mesmo não estando fisicamente encarcerado, e a democracia continuará morta.
Enquanto for um preso político, Lula continuará acorrentado e impedido de ser escrutinado pela escolha livre e soberana do povo, que é a voz que jamais pode deixar de ser escutada numa democracia, se efetiva e real.
A manutenção da prisão política do Lula é o limite intransponível para o regime; é uma espécie de linha vermelha a partir da qual a oligarquia não pode transigir. Isso porque se Lula ficar livre, ele vence a eleição de 2022, interrompe o ciclo militar que se pretende mais longevo que a ditadura anterior, e dá início à restauração da democracia e à reconstrução política, econômica, social e cultural do Brasil.
A “liberdade” que Lula vive hoje é falsa, porque ele continua sendo um prisioneiro político. A luta pela libertação do Lula vale uma vida, porque é a única maneira de reencontro do Brasil com a democracia e, sobretudo, com a vida – que, nestes tempos de necrogoverno genocida, vale nada ou quase nada.
Uma resposta
Prezado Jeferson Miola bom dia
Excelente artigo, considero tristemente preciso o seu comentário. Ao meu ver faltou para fechar a sua análise o único movimento que poderia mudar essa triste realidade. Essa única saída para nossa sociedade passa por uma movilização popular em torno do Lula livre, ao meu ver penso que nem precisaria necessariamente ser gigantesca nem enorme…. Apenas uma movilização de nós os que entendemos que estamos presos e quizás de algún setor que venha pontualmente a reconhecer está situação. Uma movilização de rua nossa, humilde já seria suficiente a gerar um constrangimento na Burguesia, no judiciário e teria um papel didática relevante em esse período de trevas informativas. Quizás a melhor referência ilustrativa a minhas palavras seja o Filme Bacurau onde o povo chama o redentor para se livrar da opressão.
Agradeço muito as suas sábias palavras e desejo muitas vitórias em suas lutas !!
Até.
Rodney Flores