Há exatamente um ano, moradores de favelas, movimentos sociais e apoiadores da causa, uniram-se na orla de Ipanema, para exigirem o fim do massacre da população favelada e periférica. O ato “Parem de Nos Matar” foi um manifesto contra a política do abate.
Naquele momento, o Rio de Janeiro registrava 434 mortes provocadas por agentes do Estado ou da intervenção federal. Entre elas, a do músico Evaldo dos Santos, que teve o carro da família fuzilado com 80 tiros por soldados do exército, e do catador de papel Luciano Macedo, que tentou socorrê-lo. Iniciava-se a política de segurança adotada pelo governador Wilson Witzel: a do extermínio de pobres e pretos. Cumpria-se a ordem “mirar na cabecinha… e fogo! Para não ter erro”, determinada pelo governador.
Era uma manhã de domingo. Em Copacabana, bolsonaristas realizavam uma manifestação em apoio ao presidente. Pediam além da reforma da previdência, o fechamento do Congresso Nacional e do Superior Tribunal Federal _ reivindicações ilegais e antidemocráticas. Enquanto isso, em Ipanema, apresentações artísticas de favelas e depoimentos de mães de vítimas do Estado clamavam pelo o direito constitucional à vida.
Havia um porquê na data escolhida para a realização do ato Parem de Nos Matar. O dia 26\5 marcava um mês do assassinato de William Mendonça, na favela do Vidigal, provocado pela polícia militar. Nera, como era conhecido, ao ouvir o tiroteio perto de sua casa, ainda vestido com o uniforme de gari comunitário, saiu a procura do filho. Mesmo gritando “sou morador, sou morador”, foi alvejado pela PM.
Hoje, um ano após o ato Parem de Nos Matar, novamente, lideranças de favelas e movimentos sociais se unem em protesto à morte de mais uma vítima do Estado: João Pedro Mattos Pinto. O adolescente de 14 anos foi assassinado pela polícia civil, dentro de casa, no Complexo do Salgueiro, enquanto brincava.
A Coalizão Negra Por Direitos, junto ao Fórum Parem de Nos Matar e diversos movimentos assinam o manifesto que exige resoluções sobre as ação policial no Complexo do Salgueiro, que resultou na morte de João Pedro. Reivindicam a identificação e responsabilização penal dos policiais envolvidos. Além disso, cobram a criação de protocolo de atuação militar em territórios de favelas para que não voltemos a contar o número absurdo de 69 mortes provocadas pelo Estado, em pleno isolamento social.
Triste constatar que não há coincidência entre as datas. O dia 26 de maio não marca apenas a aproximação cronológica entre o ato Parem de Nos Matar e o manifesto que será divulgado hoje, às 18 horas. Afinal, desde a criação da polícia em 1808, corpos negros e pobres são criminalizados e abatidos. Trata-se de uma política de genocídio instaurada desde o Brasil colônia. Outros “26 de maio” ocorreram de lá pra cá. Assim como nossos passos, o grito “parem de nos matar”, infelizmente, também vem de longe.