Operações policiais para tudo, para qualquer coisa e a qualquer hora param a vida na favela!

Fiz este texto que deu origem a um vídeo para circulação nas redes sociais digitais motivada por esta última operação no Completo Alemão e seus trágicos e repetitivos resultados e, não menos importante, pela reprodução de padrões políticos ambíguos e táticos-operacionais opacos. Uma vez que o mandato policial pertence a sociedade, cabe ao Estado administrar em seu nome este poder delegado, o poder de polícia, prestando contas quais os fins de cada operação, os meios logísticos escolhidos e os modos táticos autorizados. Há sim como aferir o desempenho de cada operação, de cada ação repressiva policial individual, em grupo e como corpo táticos, com parâmetros qualitativos e quantitativos de desempenho policial capazes de dimensionar o seu mérito, suas (in)capacidades, (in)competências e possíveis erros. Não se improvisa com polícia em democracias, onde polícias encontram sua razão de ser, porque os custos são irreversíveis! Para tanto é preciso deixar claro para que servem as operações policiais em sociedades democráticas.

Bem, as operações especiais são um recurso nobre e caro de repressão qualificada que só servem para reverter situações críticas de elevado grau de risco, incerteza e perigo para a população e para o policial em ação. Na doutrina policial, as operações especiais devem ser feitas somente por agentes especializados para serem, de fato, cirúrgicas, precisas e sem danos colaterais para os cidadãos e policiais. Por mais que se gaste muito efetivo policial, as operações serão sempre limitadas no tempo e no território. Elas serão sempre de curta duração porque polícia não tem estoque ou reserva para gastar indefinidamente. Seus resultados serão sempre provisórios e pontuais e, por conta disso, não geram controle do território e da população sob o governo do crime organizado.

A razão de ser das operações é realizar missões quase impossíveis, fazer o relógio andar para trás, garantindo baixa zero de cidadãos e policiais, isto é, garantindo a ausência de mortes e frustrando tiroteios, porque polícia tem que ter mira, alvo definido e tiro certo com pistola e com fuzil. Na cartilha policial, a eficiência das operações no cumprimento de sua missão está em sempre buscar produzir baixa zero, com ausência de bala perdida vinda da polícia e fazer prisões, além das apreensões de drogas e armas, quando oportunas, para não ficar refém da corrupção, da negociata destes saldos operacionais com o crime.

“Operações” para tudo, para qualquer coisa e a qualquer hora tem sido o principal modo de policiar no Rio de Janeiro. Esta banalização das operações no Rio tem levado ao esgotamento da própria capacidade repressiva da PM que não tem como sustentar os resultados que ela mesma consegue, virando um enxuga gelo na segurança da população e uma cortina de fumaça para o fortalecimento do crime organizado. Tem gerado escassez da presença ostensiva nas ruas deixando a população a mercê de assaltos e outras violências. Tem aumentado a demora no atendimento emergencial do 190 ao cidadão que chama a PM porque está em desespero em perigo real.

Por conta dessa banalização das operações, assistimos a um agravamento da sensação de insegurança publica, ondas de aumento dos crimes de rua, dos tiroteios e das balas perdidas. E, tudo isso, sem qualquer impacto efetivo no bolso, no poder político e no domínio armado das milícias e do tráfico no Rio de Janeiro.

O efeito publicitário das operações policiais banalizadas produz votos sim pelo aparelhamento do medo da população. Mas às custas da interrupção das rotinas na cidade, da elevação do risco de letalidade e de vitimização policiais que são um alarme da generalização da corrupção política e policial no Rio de Janeiro.

Quando vamos parar de encenar uma falsa guerra na favela para vender a paz do arrego nos gabinetes políticos e escritórios do crime? Tem mais de 40 anos que que entra e sai governo, e se mantem o uso eleitoreiro das operações que fazem o governante de ocasião e o crime organizado se darem bem economicamente e politicamente, e o cidadãos e os policiais se darem mal pagando a conta com suas vidas, com perda do seu emprego, da sua rotina, da sua segurança, da sua paz, enfim, do seu futuro.

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