O Ministro da Defesa e os comandantes das três armas divulgaram a Ordem do Dia alusiva ao 31 de março de 1964 que será lida nos quartéis e instalações das Forças Armadas.
É um texto revisionista, farsesco, que falsifica e distorce a história da primeira à última frase. Começa dizendo que o golpe civil-militar de 1964, que foi um atentado à ordem jurídica e constitucional, é “um marco para a democracia brasileira” [sic].
O ministro e os comandantes bolsonaristas referem-se às políticas do governo legítimo de João Goulart como “Ingredientes utópicos [que] embalavam sonhos com promessas de igualdades fáceis e liberdades mágicas, engodos que atraíam até os bem-intencionados”.
Num relato mentiroso que omite o processo de desestabilização econômica e política orquestrado na época pela burguesia com o governo dos EUA para derrubar Jango, os signatários sustentam que “As instituições se moveram para sustentar a democracia, diante das pressões de grupos que lutavam pelo poder”.
Confundindo vitalidade democrática e participação social com caos político, afirmam que “As instabilidades e os conflitos recrudesciam e se disseminavam sem controle”.
O conluio das classes dominantes, do empresariado, da Igreja Católica e da imprensa com os quartéis é tratado candidamente como um evento espontâneo, em que “A sociedade brasileira, os empresários e a imprensa entenderam as ameaças daquele momento, se aliaram e reagiram”.
A Ordem do Dia reserva um papel heróico aos golpistas fardados que violentaram a Constituição:“As Forças Armadas assumiram a responsabilidade de conter aquela escalada, com todos os desgastes previsíveis”.
Ocultando as atrocidades das torturas, dos exílios forçados, os assassinatos bárbaros e covardes e as perseguições políticas, o comunicado adota tom ufanista e insinua que os brasileiros “Entregaram-se à construção do seu País e passaram a aproveitar as oportunidades que eles mesmos criavam. O Brasil cresceu até alcançar a posição de oitava economia do mundo”.
Esta mentira sobre a situação econômica é contrarrestada pela herança desastrosa do período ditatorial: corrupção disseminada, inflação alta, arrocho salarial, endividamento brutal, pobreza e miséria e, naturalmente, assassinatos de brasileiros e brasileiras por agentes do Estado de Terror nos porões do regime.
Os militares atribuem-se, ainda, uma função não prevista na Constituição, o “propósito de manter a paz e a estabilidade”.
A Ordem do Dia termina com uma manifestação asquerosa e lacônica: “O Movimento de 1964 é um marco para a democracia brasileira. Muito mais pelo que evitou”.
Não é de se estranhar que num governo conduzido por um genocida sociopata os altos comandos militares homenageiem um regime de terror, de arbítrio e de assassinatos e falsifiquem a história.