É evidente que Trump, Bolsonaro, Netanyahu, Johnson, entre outros, são as efígies máximas das doenças que sempre existiram nas sociedades.
Há uma semana, em 25.05.2020, George Floyd (46) foi assassinado em Minneapolis, nos Estados Unidos. Quem era Floyd? Ninguém famoso ou meramente conhecido. Era somente mais um homem negro simples norte-americano, que acabou executado por um policial branco. Na era dos Smartphones, “felizmente” o crime foi claramente registrado e a imagem que ficará para a história tanto é perturbadora, quanto é um retrato de certas sociedades do mundo.
Ocorreu assim: a polícia abordou Floyd, por este ter sido acusado de ter comprado comida com uma nota falsa de 20 dólares. O policial Derek Chauvin, alegando posteriormente que Floyd reagira e se negara a obedecer ordens da polícia, o deteve. Não se sabe se a história ocorreu exatamente assim, mas – ainda que tenha ocorrido – a resposta do policial foi completamente desproporcional a qualquer ação do detido. Chauvin deitou Floyd no chão e colocou seu joelho no pescoço da vítima, já claramente rendida. Por oito minutos e 46 segundos ele permaneceu nesta forçosa posição de completo controle. No vídeo é possível ouvir Floyd desesperadamente repetindo frases como “Não consigo respirar”, “Não me mate” e “Por favor”. De acordo com as autoridades que investigam o caso, destes 8:46 minutos, durante os últimos 2:53, Floyd já estava desacordado.
Enfim, uma primeira autópsia revelou que Floyd não faleceu por estrangulamento, mas – ao que tudo indica – ele possuía frágil saúde e problemas cardíacos e, tudo isso unido ao terrível trauma que sofreu pela conduta policial, o levou à morte, provavelmente em decorrência de uma parada cardíaca.
Ao que parece Chauvin será indiciado por homicídio culposo. Será condenado? Eu não apostaria nisso. A Justiça norte-americana é em muitas ocasiões uma tragédia. Se olharmos para o caso de Eric Garner (outro homem afro-americano morto por violência policial em 2014), seu assassino, Daniel Pantaleo, foi rapidamente inocentado. Ou seja, racismo no crime e racismo na impunidade.
No caso de Chauvin, especificamente, é fácil compreendermos que sua violência gratuita e desnecessária tem um evidente propósito: o intuito de humilhar, de mostrar dominação, de deixar claro quem é superior e quem é inferior.
Estou convencido de que Trump é o mais nocivo presidente norte-americano da história. É racista, sexista, antissemita, classista e por aí adiante. Mas é necessário registrarmos aqui que não foi ele quem trouxe este problema de racismo institucional aos EUA. Mesmo quando encontrava-se na Casa Branca um presidente negro, o democrata Barack Obama (2009-2016), os números de crimes deste teor eram alarmantes. E antes dele, também era assim.
Dito isso, é evidente que Trump, Bolsonaro, Netanyahu, Johnson, entre outros, são as efígies máximas das doenças que sempre existiram nas sociedades. O racismo, o preconceito, a intolerância, o ódio estão sempre à espreita, esperando que um líder que os represente suba ao poder e legitime tudo o que há de pior no intrínseco da população.
E o Brasil? Quantos pobres, sejam negros ou brancos (ou “quase brancos, quase negros”, como escreveu Caetano), são assassinados todos os dias? Incontáveis. Em 2019, somente no estado do RJ, mais de 1800 assassinatos por força policial foram registrados, o que caracterizou um novo recorde (fora os não registrados, que passam “abaixo do radar”). Não é novidade para ninguém. A polícia do Brasil é uma das mais assassinas do mundo. Agora, na era Bolsonaro, novas “liberdades” são a ela concedidas.
A morte de Floyd impulsionou grandes manifestações antirracistas nos EUA e em outras partes do planeta. No Brasil, a belíssima manifestação de 31 de maio na Avenida Paulista em SP por parte das torcidas de futebol uniu o grito do antirracismo a todos os outros “anti” necessários na era do ódio encabeçada pelo atual presidente da república. Logicamente a polícia brasileira estava lá, para agir desproporcionalmente contra os defensores da Democracia, atirando em direção a eles dezenas de bombas de fumaça. E ainda detiveram alguns manifestantes, enquanto – sim, foi o que ocorreu – protegiam contra manifestantes defensores do Fascismo.
Concluo afirmando que Floyd vive. Garner vive. E vivem todos os outros pobres negros ou brancos, norte-americanos, brasileiros ou de quaisquer outras nacionalidades, que foram assassinados por aqueles que deveriam proteger a vida ao invés de matá-la. Joelho no pescoço é o que Trump e Bolsonaro fazem todos os dias com o povo (inclusive com os energúmenos que votaram neles e não percebem isso). Por isso precisamos de mais e mais manifestações e protestos. Até tirarmos as efígies do poder e colocarmos em seus lugares líderes que procurem curar os cânceres das sociedades, em vez de agirem como agentes da metástase.
Uma resposta
Adendo do autor: ‘Horas depois da publicação deste artigo, foi divulgado o resultado de uma nova autópsia independente, que contradiz a primeira. Neste afirmam os médicos que Floyd faleceu de fato por asfixia. Os tribunais agora terão de considerar ambas as versões.’