Fulgêncio Pedra Branca: A verdadeira história de Al Cki Min, o refugiado vietcongue oculto dentro das hostes inimigas tucanas.

Depois de não poder comer de graça peru e bacalhau gadus morhua no natal, por ter brigado com 99,99% da minha família bolsonarista, e não querer passar a ceia com minha namorada Namastê (ceia vegetariana no natal é espírito pós muderno demais para este ogro velho), tive sérias dificuldades de arrumar uma casa para me convidar para comer de graça nos festejos de nascimento do filho do amigo imaginário.

Além de alcoólatra, hipocondríaco e sincericida, padeço do mal de ser ateu num dos países mais crédulos do mundo. Basta eu dizer que sou ateu que a pessoa do outro lado começa a sentir o cheiro do enxofre e ver chifres saindo da minha testa e um rabo pontiagudo balançado festeiramente tentando a pessoa com as delícias do pecado.

Mas tenho minha reserva de meia dúzia de 3 ou 4 comunistas ricos, não digo de iphone, porque são velhos como eu, e preferem também a Remington 25, para comer de graça no dia do nascimento imaginário de Jesus. Já me refestelava de júbilo imaginando a comilança e a bebelança, com doses opíparas de Black Label na casa de George (se pronuncia dj com dj, porque é um comunista educado em escola bilíngue) num belo prédio em frente à praia, mas caí na besteira de cometer um sacrilégio, um pecado maior que tacar pedra na cruz ou cantar um ponto de umbanda dentro da Igreja Universal.

Eu não domino muito bem estes parangolés de twits, e, inadvertidamente coloquei uma singela mensagem: “Alckmin é meuzovos” no twitter.

Queridos, basta dizer que passei o natal insosso, sozinho, sem dinheiro e sem amigos, degustando uma garrafa plástica de Caninha da Roça e um frango assado que, depois de pedir mil perdões a meu amigo Zé Pilintra, roubei da encruzilhada. Nem Namastê, nem meus amigos comunistas ricos.

Esqueci que a maioria deles ainda acredita na infalibilidade do Comitê Central e foi passada a mensagem que deviam defender o camarada Al Cki Min com unhas e dentes.

Tive um desagradável contato telefônico com George (se pronúncia Djeorge). Ele me explicou tudo. Ele tinha escutado o programa do seu capa vermelha na TV, super-especialistas de assuntos internos, externos e até intergaláticos, sobre a importância do neo camarada Al Cki Min. O Comitê Central do ex partido Albanês delimitou que agora Chu Chu (se escreve Chu Chu, em separado, porque é também o nome de guerra secreto do camarada) era na verdade um agente duplo.

Fui xingado com palavras carinhosas, a lista é imensa, de bolsonarista neomiliciano, a quinta coluna trotskysta, agente do imperialismo, defensor das derrotas, extremista lunático que sonha com uma revolução inviável. Tudo isto porque escrevi no twitter “Alkcmin é meuzovos”.

George (se lê Djeorge) explicou que Al Cki Min é, na verdade, um agente vietcongue treinado durante anos para enganar o tucanato. Que o massacre do Pinheirinho foi uma fachada necessária para ele ganhar a simpatia das hostes reacionárias. Que sim, ele xingou Lula de chefe de quadrilha e falou que o PT era uma organização criminosa comanda por Luíz Inácio, mas era tudo cortina de fumaça para que não suspeitassem dele e, tem mais, chegou ao extremo sacrifício de tirar a merenda das crianças e bater nos professores, para que nunca a Faria Lima desconfiasse que tinha um treinado agente comunista em suas hostes, só esperando a hora certa para dar o pulo do gato.

Agora, podemos ser felizes, o treinado agente Al Cki Min nunca trairá seu destino e defenderá uma política progressista e antineoliberal, por isto devemos acatá-lo no nosso seio, porque todo o passado reacionário e entreguista dele era, na verdade, apenas simulação. Ele fingia ser inimigo de classe e do movimento social para ganhar a simpatia do inimigo e, no momento fecundo, ser nosso aliado correto para domar a Faria Lima que, com Chu Chu (lê-se Tchu Tchu em vietnamita) do nosso lado, terá que ser curvar e aceitar um programa avançado de reformas sociais.

Depois destas explicações alucinógenas George (lê-se Djeorge) bateu o telefone na minha cara e fiquei sem opção de ceia para este Natal. Eles acham que Alckmin virou Al Cki Min (nosso aliado eficaz na luta contra a elite). Eu, na solidão da minha Caninha da Roça e de meu frango de encruzilhada, folheei na noite Esopo na parte em que ele contava a fábula do sapo e do escorpião.

Fulgêncio Pedra Branca é escritor, alcoólatra e hipocondríaco, escreve nesta coluna por falta de coisa melhor para fazer na vida.

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