Fui surpreendido por declaração do tão festejado sociólogo e “intelectual” brasileiro, o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, replicado neste Portal 247 pelo qual tenho profundo apreço.
FHC, para “justificar” seu não alinhamento aos inúmeros pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro que pululam no colo do atual Presidente da Câmara, declarou que: “ não sei se existe no arsenal jurídico. Houve com Delfim Moreira, caso clínico. Aplica-se ainda que difícil de comprovar? Duvido.”
Não raro me deparo com o tratamento pouco cortês, seja de parte da mídia corporativa, seja de intelectuais que não buscaram a história antes de tecer seus desairosos comentários.
Delfim Moreira foi um político muito importante para o Estado de Minas Gerais. Bacharel em Ciências Políticas e Sociais, pela Faculdade de Direito de São Paulo, foi Promotor Público, Deputado, Senador e Presidente (hoje Governador) do Estado de Minas Gerais, e concorrendo à vice-presidência, foi eleito pelo povo. Ocorreu que, ao assumir à Presidência decorrente da morte de Rodrigues Alves, foi acometido de uma doença, esclerose (nos dias de hoje, poderia ser diagnosticado como Mal de Alzheimer), provocado pela perda de filha de 12 anos, e por esse motivo, teve que contar com a cooperação mais atuante do Ministro Afrânio de Mello Franco, que na sua morte fez questão de declarar:
“Foi a verdadeira personificação democrática de governo da República. Ele foi, na Presidência, o que todos sentimos: o verdadeiro governo do povo, para o povo e fê-lo com modéstia e excessivo retraimento às vezes o que, aliás, projetou para o futuro o reflexo do seu valor”.
Portanto, a comparação feita por FHC é inadmissível, demonstrando absoluto desconhecimento histórico, fazendo-se valer de ataque a quem presidiu o Brasil há mais de 100 anos para tentar justificar sua omissão em tão grave momento, de repetidas afrontas à democracia brasileira perpetradas pelo atual mandatário da Nação.
Importante reiterar: meu bisavô foi um homem íntegro, advogado, educado, humanista, e seu mal for ter perdido sua filha ainda criança dias antes de assumir o mandato, sendo então acometido de grave depressão seguida de Alzheimer. Mesmo assim, foi capaz de entregar, em seus momentos de lucidez, a condução do governo a quem pudesse fazer o melhor pelo país.
Nada, pois, tem de comparável com o déspota que está na Presidência, que agride a ciência, a imprensa, os poderes constituídos, a democracia, o povo mais humilde e a vida humana.
A comparação esdrúxula feita por FHC demonstra, com o benefício da dúvida que lhe é dado, que ignora a história das pessoas que tiveram alguma importância em nossa história.
Comparar Delfim Moreira a esse déspota que temos no governo agora é no mínimo irresponsável.