Jamais houve na história da República fatos tão estarrecedores quanto os que ocorreram no último domingo, dia 8 de janeiro, em Brasília, quando uma horda de terroristas, dispostos a criar o clima para um golpe de estado, invadiram as sedes dos Três Poderes e as depredaram violentamente, quebrando tudo o que encontravam pela frente – vidraças, janelas, vitrais, mesas, cadeiras, portas, computadores e até mesmo peças históricas de inestimável valor simbólico e cultural, como quadros, esculturas e outros objetos de arte, assinados por artistas brasileiros de renome ou presenteados por dignatários de outros países. Não bastasse a depredação, urinaram e defecaram por todos os cantos. Tudo a demonstrar fanatismo, déficit moral e desprezo pelo patrimônio público nacional.
As sedes dos Três Poderes e tudo que constitui seu acervo administrativo e cultural não pertencem aos seus ocupantes transitórios e nem mesmo aos que nelas exercem suas funções como servidores públicos. Pertencem ao povo brasileiro!
Os prejuízos materializados nas obras de arte destruídas ou roubadas são incomensuráveis, já os demais, materializados na depredação das instalações, dos móveis e objetos de trabalho, serão elevadíssimos. Está correta a diretriz já assumida de, por via judicial, colocar na conta dos golpistas o montante financeiro decorrente dos estragos, pois, caso contrário, incidirão sobre o orçamento público, em detrimento dos gastos necessários e urgentes com saúde, educação, assistência social e assim por diante.
O maior prejuízo, porém, é o que afeta a Democracia. Esse não tem preço, não se expressa financeiramente, mas é um pilar que estrutura e dá sentido a uma Nação civilizada que busca alcançar um patamar elevado de desenvolvimento econômico-social para o seu povo. Cinicamente trajados com as cores nacionais, os criminosos que protagonizaram vergonhosamente os acontecimentos de domingo passado clamando por um golpe de estado não têm o menor apreço pela democracia, ao contrário, desprezam-na, aviltam-na.
Estamos diante de um imperativo inexorável, que emana da perplexidade e da indignação nacional: apurar os fatos criminosos e, em conformidade com a lei, punir exemplarmente os seus responsáveis, doa a quem doer, pouco importa o tamanho da sua fortuna, do seu status político ou do seu posto de comando. Nesse contexto, cumpre investigar e punir, inclusive e sobretudo, as autoridades coniventes com tais fatos. Essas diretrizes já estão consolidadas desde que o Presidente Lula assinou o decreto que viabilizou a intervenção federal na segurança pública do DF, posteriormente referendada pelo Congresso Nacional, e o Ministro Alexandre de Moraes afastou por 90 dias o atual governador distrital. Medidas duras e oportunas que já acarretaram prisões em massa e a identificação de parcela de líderes e financiadores da baderna de Brasília, os quais serão igualmente presos e denunciados, numa escalada sem precedentes. Condenações virão com certeza, pois as provas são eloquentes, até porque muitos dos delinquentes pouco se importaram em serem filmados, por empáfia ou talvez convencidos ingenuamente da sua impunidade.
Apesar dos pesares, a Democracia sai fortalecida desse triste episódio, revelando que o tiro saiu pela culatra. As instituições que vertebram o Estado Democrático de Direito se uniram como nunca em nossa história e as primeiras pesquisas de opinião que vieram à luz dão conta de que a esmagadora maioria do povo brasileiro repudia a intentona golpista.
Contextualizando o episódio a partir de Piracicaba, sabe-se que vários ônibus partiram da cidade em direção a Brasília e que alguns integrantes da caravana sinistra lá estão presos. Foram por conta própria ou foram financiados? Quem são os financiadores? Isso vai dar pano pra manga.
Ainda nesse contexto local, correram rumores de que empresário local convocou reunião no UNINORTE com o intuito de planejar a derrubada “desse governo comunista”. Será verdade?
Por fim, se não estou enganado, o silêncio estridente do atual prefeito e da cúpula do poder legislativo de Piracicaba é perturbador.