Coronavírus: É o fim do capitalismo?

Coronavírus: é o fim do capitalismo?

A crise provocada pela expansão do novo coronavírus, fez eclodir uma nova fase no capitalismo mundial. A bolha financeira, que foi reconstruída depois da crise de 2008, voltou a explodir e empurrou todo o sistema capitalista para uma crise de graves proporções, abalando as suas estruturas econômicas, colocando em cheque a sua capacidade de garantir um desenvolvimento sustentável e aumentando significativamente a concentração de renda e riqueza.

Pandemia e capitalismo

Um dos possíveis cenários para depois da crise do coronavírus é a realização de uma “limpeza” do capitalismo, com o crescimento das tendências de monopolização, de concentração da propriedade e com grandes grupos financeiros adquirindo os menores que ficaram fragilizados durante a pandemia. 

Ao mesmo tempo, observamos na opinião nacional e internacional, um descredenciamento do capitalismo como um sistema capaz de garantir desenvolvimento e prosperidade para a população, abrindo uma janela de oportunidades para as correntes socialistas e anticapitalistas.

No entanto, precisamos fazer algumas ponderações, uma vez que a crise não representará, necessariamente,  avanços. Vejamos, por exemplo, a crise econômica de 2008, que também desnudou as engrenagens do sistema capitalista e provocou um amplo questionamento sobre a sua capacidade de garantir um desenvolvido sustentável. 

Mas ao invés de ter representado uma onda socialista no mundo, o que ocorreu depois da crise foi exatamente o oposto e o que observamos foi uma ofensiva conservadora de grande porte com a radicalização do imperialismo, o surgimento de correntes de extrema direita, o renascimento do neofascismo e o surgimento de um nacionalismo grão-burguês dos estados imperialistas.

Isto significa dizer que a tal janela de oportunidades aberta pela crise atual, tanto pode ser aproveitada pelos trabalhadores ou pelos capitalistas, de forma a reorganizar o sistema a seu favor.

Nesse sentido, torna-se fundamental combater a ideia de que o mundo não será o mesmo depois do coronavírus, que provocará uma reflexão da humanidade, que a burguesia vai repensar o desenvolvimento do capitalismo, que o fórum econômico mundial de Davos passará a pensar num capitalismo humano e que os grandes capitalistas finalmente se darão conta de que o neoliberalismo não funciona.

Ao embarcar nesse discurso corremos o risco que o mundo permaneça exatamente o mesmo depois do coronavírus ou ainda pior, com um sistema capitalista revelando as suas características mais selvagens.

Além disso, a grande maioria da esquerda tem uma leitura equivocada do neoliberalismo, definindo-o como uma simples política econômica, ou seja, que poderá ser substituída por outra a qualquer momento. Na prática, isso significa que é possível a construção de uma aliança com setores da burguesia ao redor de uma política que não seja neoliberal.

No entanto, é importante ressaltar que o neoliberalismo não é apenas uma política econômica, mas sim uma nova etapa do capitalismo, conhecida como a financeirização do capital e da mesma maneira que o capitalismo jamais pode deixar de ser imperialista, na etapa da financeirização do capital o capitalismo jamais pode deixar de ser neoliberal.

Compreender o neoliberalismo como a etapa de financeirização do capital nos permite concluir que o capitalismo só poderá sobreviver e manter a sua segurança e rentabilidade a partir de políticas neoliberais, isto é, cortando serviços públicos e direitos sociais para que possam garantir o pagamento dos títulos da dívida e de outros derivativos, que são o fundamento da lucratividade do capital financeiro. Isso faz parte da essência do neoliberalismo.

Através dessa leitura sobre o neoliberalismo, passaremos, também, a compreender que atualmente não existe a menor possibilidade estrutural que obrigue a burguesia a abandonar o neoliberalismo. 

Isto quer dizer que apenas as correntes populares, socialistas e anticapitalistas, serão capazes de fazer um enfrentamento ao neoliberalismo e só será possível superar o capitalismo se avançarmos na construção de uma alternativa anticapitalista.

Do ponto de vista pragmático, não é possível derrotar o neoliberalismo sem derrotar o capitalismo e sem a construção de uma nova perspectiva revolucionária internacional.

Como já disse anteriormente, a crise provocada pelo coronavírus abre uma janela de oportunidade para acelerar a reorganização da esquerda nacional e internacional e cria espaço para a construção de um caminho que nos permita refazer a nossa estratégia e reforçar a nossa capacidade de incidir sobre a luta de classes.

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Uma resposta

  1. Gostei dos seus argumentos. Agora será necessário aclarar o foco a ser prioritariamente atacado. E esse movimento terá que vir de baixo.

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