Em um manifesto curto, de 18 linhas, com o título “Eleições serão respeitadas”, publicado em grandes jornais na última quinta-feira [5], uma fatia de proa do PIB mandou para o presidente Jair Bolsonaro um recado em defesa do atual sistema de votação por urnas eletrônicas.
O manifesto puxado por banqueiros, empresários, políticos de direita, economistas e consultores do mercado financeiro defende a Justiça Eleitoral e o respeito aos resultados eleitorais: “O princípio chave de uma democracia saudável é a realização de eleições e a aceitação de seus resultados por todos os envolvidos. A Justiça Eleitoral brasileira é uma das mais modernas e respeitadas do mundo. Confiamos nela e no atual sistema de votação eletrônico. A sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará aventuras autoritárias”, afirma o documento — que segue aberto para adesões nas redes sociais.
O manifesto reflete um certo cansaço do “andar de cima” com a pregação golpista de Bolsonaro, que inflama a parcela mais radicalizada da extrema direita contra as desgastadas instituições da República, entre elas, o STF e o Tribunal Superior Eleitoral [TSE].
Apesar da bronca em Bolsonaro, segmentos empresariais mais representativos do PIB continuam apoiando, no essencial, o governo e a aplicação da política de destruição nacional comandada pelo ministro da Economia Paulo Guedes. A boiada continua passando para a satisfação dos banqueiros e rentistas, do agronegócio, dos fabricantes de armas, mineradores, madeireiros, grandes redes de supermercados e de consultorias financeiras — que operam as privatizações em curso.
A movimentação mais crítica das diversas facções da burguesia nacional também sinaliza um desgaste político na relação com o governo Bolsonaro, que, apesar do discurso belicoso e golpista, tem entregado em dia o serviço encomendado pelo baronato que controla o grosso do PIB.
Vale lembrar que nesta semana foi a vez da entrega dos Correios para a saciar a voracidade dos privatistas e nos próximos dias uma draconiana “reforma administrativa”, a PEC 32 que projeta cortar fundo e enfraquecer a capacidade gerencial da máquina estatal na oferta dos serviços públicos para a população.
Apesar das tensões geradas por Bolsonaro, os donos do dinheiro não querem apeá-lo da presidência. Até porque não há ainda um candidato da chamada terceira via para substituí-lo. Aí reside a principal contradição da burguesia e, ao mesmo tempo, a sorte de Bolsonaro. Ou seja, Bolsonaro estica corda e as chamadas classes dominantes, suas instituições, partidos e congressistas, apenas ameaçam com futuras sanções. Ambos têm um acordo de fundo: O compromisso com a recolonização neoliberal do Brasil.
Uma saída democrática e progressista da crise, que supere ao mesmo tempo o golpismo de Bolsonaro, a tutela militar e o neoliberalismo, só será possível com a consolidação de uma frente das forças de esquerda, apoiada numa ampla mobilização popular.
Portanto, intensificar a campanha Fora Bolsonaro nas ruas [e em todos os territórios de concentração do povo trabalhador] é a aposta mais concreta para deter o desmonte do país por um governo de genocidas e milicianos fardados — e o meio mais eficaz para garantir o respeito aos resultados eleitorais no caso de um triunfo popular nas urnas em 2022.