Por Claudio Passos, editor do Canal Resistentes.
Ontem, 28/08/2024, foi indicado pelo presidente Lula para presidir o Banco Central, o economista Gabriel Galípola que ocupava a diretoria de política monetária do BC desde julho de 2023. A diretoria do BC é composta por onze membros, incluindo a presidência. Destes, quatro foram indicados pelo presidente Lula a partir de janeiro de 2023. Galípolo será sabatinado numa comissão do Senado Federal e, sendo aprovado, assume a presidência do BC a partir de 01/01/2025.
Galípolo tem 42 anos, formado em economia pela PUC de São Paulo, deu aulas nessa instituição entre 2006 e 2012. Em 2007 assumiu o comando da assessoria econômica da secretaria de Transportes do governo do estado de SP, gestão Serra. Em 2009, abre a sua própria consultoria econômica atuando na área de desenvolvimento de projetos de concessões. Presidiu o banco Fator entre 2017 e 2021 onde comandou estudos de projetos para privatização e desestatização, que resultou na venda da CEDAE – Companhia de Águas e Esgotos do Estado do Rio de Janeiro durante o governo de Jair Bolsonaro.
Com essa trajetória, Galípolo pode ser considerado um homem do mercado e com visão liberal da economia. Esse perfil o levou para o Ministério da Fazenda de Fernando Haddad e de lá para a diretoria de política monetária do BC. Das nove reuniões que participou no comitê de política monetária do BC, o COPOM, oito delas, Galípolo acompanhou o voto de Roberto Campos Neto para a taxa Selic. Além dele os outros 3 diretores do BC indicados por Lula, seguiram na mesma trilha.
O BC, na presidência de Campos Neto, indicado por Bolsonaro, é considerado pelo governo Lula uma trava para alavancar o desenvolvimento em função das altas taxas de juros pré determinada pela diretoria do BC, a Selic. O próprio presidente Lula fez inúmeras declarações públicas dizendo que não havia nenhum motivo para manter a Selic em patamares tão elevados e que isso era contra os interesses nacionais. O próximo presidente do BC e seus novos diretores, assumem em 01/01/2025 com mandato até 31/12/2028. Ao todo serão sete novos diretores indicados pelo governo Lula, num colegiado de onze.
Voltando ao título da matéria: aprovado na sabatina do senado, Gabriel Galípolo, ajuda no projeto de reeleição do Lula em 2026?
A resposta não é trivial, porém, um dado salto aos olhos. Para que o presidente Lula alcance os objetivos anunciados em campanha de fazer mais e melhor nesse seu terceiro mandato, criando as condições para um crescimento vigoroso e contínuo, com distribuição da riqueza e inclusão social, trazer a taxa Selic para padrões civilizados será a grande contribuição que o novo presidente do BC poderá oferecer.
Padrões civilizados significam trazer o juro real da economia, taxa Selic menos a inflação, para patamares de países similares a economia brasileira, na ordem de 3 a 4%. Isso significa reduzir a taxa Selic, no mais breve tempo possível, à faixa de 7 a 8% e mantê-la ao menos até dezembro de 26, considerando que a inflação deste ano deverá fechar entre 3 e 4%. Hoje, a Selic está em 10,50%.
É nessa perspectiva que poderemos avaliar se um economista vindo do mercado financeiro, de perfil liberal, poderá ou não contribuir com o projeto de reeleição do presidente Lula em 2026.
A opinião do autor desse artigo não reflete necessariamente a posição do Canal Resistentes sobre o tema apresentado.
2 respostas
É de se esperar que Galípolo trabalhe para promover mudanças na forma de atuação do BC. Caso contrário, repetindo a atual gestão, será uma grande decepção. Não se deve esperar mudanças radicais e nem subordinação subalterna ao governo, mas minimamente uma linha de atuação menos sectária e, portanto, menos subalterna ao mercado financeiro. Se isso vier a ocorrer, possivelmente abrir-se-ão janelas de oportunidade para a retomada do investimento público num patamar melhor do que o atual. Meno male.
É o que esperamos!